sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pará eu te quero grande.

Em leitura atenta dos blogs regionais não passou despercebido o fato de que o novo governador do estado do Pará, Simão Jatene, não nomeou ninguém de Santarém ou do restante do Oeste paraense para cargos de primeiro escalão (leia-se secretário de Estado), o que significa que no governo Jatene II continuamos cidadãos dignos do segundo escalão em diante, defendidos por lideranças políticas pouco representativas, e Belém, como sempre, dominando mais do que nunca o topo da pirâmide administrativa paraense.
Tal realidade era previsível, embora a cada eleição reapareça uma tendência natural a nos fazer  acreditar que tudo será melhor em um governo vindouro e que seremos vistos como realmente merecemos. A esperança tem nos cegado ao longo dos séculos. O eleitor do Oeste do Pará foi instado na última eleição para o governo estadual a escolher entre o menos pior para a região, já que o governo Jatene I não deixou saudades por aqui e o governo Ana Júlia nem de longe atendeu as nossas frustradas expectativas.
Belém, em manobras que parecem um tardio reconhecimento à importância do far west, nos permitiu indicarmos os dois últimos vice-governadores eleitos, abrandando de certa forma o nosso ímpeto separatista, o que parece ter arrefecido a luta até o momento inglória, mas com significativos avanços, pela criação do Estado do Tapajós.
O futuro Estado do Tapajós possui inimigos poderosos instalados na elite política estadual centrada em Belém e no mais poderoso grupo de comunicação paraense. Lembramos aos líderes políticos do Oeste do Pará, principalmente os de Itaituba, que o iminente ou atual chefe da casa civil do governo estadual, cargo de grande relevância e envergadura na esfera de poder, deputado federal licenciado Zenaldo Coutinho, é um opositor ferrenho da divisão do Pará, uma das suas principais bandeiras políticas, nos preocupando a forma como homem tão poderoso olhará nossos anseios diante dos brados separatistas, principalmente de Itaituba, na qual, se não me trai a memória, jamais pós os pés.
Nas ondas da rádio Liberal FM em Itaituba é comum ouvirmos uma música apresentada em caráter institucional, expressando, portanto, o ponto de vista da empresa, sabidamente sediada em Belém, que possui como refrão a frase “Pará eu te quero grande”, reportando-se ao desejo de manter o gigantismo territorial do Pará, afirmando “não vou deixar que separem não, teus rios, tuas matas, teu povo”, convocando à luta para que o Pará continue assim, pra sempre assim.
É justamente o gigantismo territorial do Pará que tem nos massacrado. Mais do que o isolamento geográfico e a forma de exploração econômica, parte considerável do nosso atraso se deve ao fato de o Oeste do Pará vir sendo solenemente ignorados ao longo das décadas, já que para Belém a nossa importância se restringe à manutenção do gigantismo territorial do Pará e às riquezas naturais aqui abrigadas, não à dignidade do nosso povo, visto, não raro, como alienígenas, invasores.
Nem mesmo no período áureo da borracha fomos reconhecidos. Começamos a ser integrados de fato ao restante do país por estradas, em uma nação que adotou como matriz de transporte as rodovias, somente após a chegada do homem à lua. O ouro, efêmero como o olhar dos nossos governantes sobre a região, trouxe mais problemas que prosperidade. Ainda padecemos pela falta de rodovias pavimentadas, pela falta de boas escolas e de bons hospitais, somente para ficar no óbvio, o que por mais absurdo que pareça se configura cotidianamente real.
Precisamos relembrar ao novo/velho governador do Estado do Pará, neste momento preocupado em ressuscitar o Pará que te quero grande, as nossas reais aspirações, nossos anseios, nossas mágoas, nossas dores, reivindicarmos investimentos produtivos, o incremento dos órgãos de segurança, infraestrutura, bem mais do que as migalhas das quais já estamos fartos, sem, contudo, deixarmos de lutar pela criação do novo estado, para que possamos, num futuro não muito distante, executarmos em nossas emissoras de rádio uma nova canção, a qual humildemente sugerimos contenha a frase “Tapajós eu te quero grande, digno, próspero e justo”. Com a palavra as nossas lideranças políticas.
Jairo Araújo é advogado.

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